Nesta carta, as cursistas foram convidadas a escreverem uma carta compartilhando alguma situação de conflito que vivenciaram na escola. 




Olá meninas, meu maior desafio frente a conflitos foi recente em 2018 e encontrei muita dificuldade para lidar. O aluno em questão não se via como uma criança e sim, como um adolescente, por conviver bastante com faixa etárias maiores que a sua.
Menosprezava seus amiguinhos e os agredia de forma contundente, frequentemente. No início achei que conseguiria contornar resolver com psicologia, conversas, pedagogia...enfim, mas a cada dia a situação se agravava com as reclamações dos pais das crianças agredidas.
A família passou a ser chamada todas as vezes que acontecia algo grave, que era rotineiro. Era uma família que possuía um pai opressor. Essa criança só refletia o que vivia, acho até que em uma escala menor.
Eu passei meus dias tentando entender este aluno, mas ele abusava de todos os meus acolhimentos, protegendo os outros alunos e esperando que algo mudasse. Foi o pior ano da minha carreira.

Araci
Hoje terminei o mapeamento sobre o texto sugerido. Fiquei muito animada com essa leitura que me fez pensar muito sobre questões relativas às relações que estabelecemos nos espaços com as crianças e com os demais adultos, e até nas relações que travamos no nosso cotidiano fora da escola. No momento, não tenho nenhuma lembrança de algo que tenha ocorrido entre as crianças, e que eu possa articular com esse texto. No entanto, ontem recebi uma mensagem de uma mãe que se queixava das atividades propostas nesse momento da pandemia, e dizia que tem alfabetizado a filha (vale dizer que essa menina está com 4 anos) com a ajuda de amigas professoras. Ainda disse que a filha está desinteressada pelas atividades. Então, resolvi contar a vocês que os textos, as concepções e o entendimento que venho obtendo com o curso veio de encontro com a resposta que enviei a essa mãe. Percebi que me senti segura em dizer-lhe que a proposta e encaminhamento da educação infantil, baseado em estudos, pesquisas e legitimado nos documentos norteadores, nos subsidiam a trabalhar de modo dinâmico, pensando em práticas que possam enriquecer o repertório cultural, linguístico e artístico das crianças. Ainda expus que o objetivo da educação infantil não é alfabetizar, e sim estimular à criança por meio de histórias, contações e narrativas, que possam fortalecer seu conhecimento do mundo letrado. Como foi bom expor minhas ideias com base no que estamos conhecendo. Senti que precisamos fortalecer qual é, de fato, o papel da educação infantil para as nossas crianças. Se a reclamação e desabafo dessa mãe pôde gerar um certo desconforto no início da leitura da mensagem, no final contribuiu para que eu pudesse usar um possível conflito a favor da minha identidade profissional. Grata a todas vocês e um forte abraço!

Amana
Três Rios, 30 de junho de 2021
Estimadas amigas, Maria José, Mariana e Heloísa.
Tudo bem com vocês?
Certa vez , na hora da merenda, as crianças sentadinhas uma perto da outra, com seus potinhos de biscoitos, sucos e alguns com frutinhas. Depois da oração agradecendo pelo alimento começaram a comer. Uma criança tinha levado bisnaguinha com maionese, era a única merenda diferente. O amigo que estava do lado perguntou o que era, e ficou curioso em experimentar, mas como o amigo não ofereceu, inconformado ,esperou que o amigo olhasse para o lado e pegou sem pedir. Começou a confusão. Ficaram ambos emburrados.
Uma amiguinha que acompanhava tudo, falou :
-Se você tivesse dado um pedacinho ele, seu pão nem ia ficar tão pequeno, sabia que a gente tem que dividir? E sabia também que não pode pegar as coisas dos outros sem pedir
é muito feio.! Agora um pede desculpas para o outro pra voltar a ser amigo.
Crianças são sábias!
Grande abraço!

Janaína
Poderia citar milhares de exemplos de intervenções de adultos em conflito mal resolvidas e algumas até mal interpretadas, mas vou falar sobre uma que me marcou muito.
Há uns cinco anos atrás fazíamos um encerramento para as turmas do 5° ano do Ensino fundamental que chamávamos de 'formatura", já que a escola só vai até o 5° ano e muitos não conseguem chegar nem mesmo ao 9° ano. Na semana da "formatura" os alunos estavam eufóricos como de costume. Havia uma menina que durante o tempo que esteva na escola sempre se mostrou agressiva, mais como forma de defesa do que qualquer outra coisa. Em um dos "ensaios da formatura" a professora largou a turma por alguns minutos e um dos meninos maiores a chamou por um apelido que ela não gostava, revidando ela bateu a sua bolsa no rosto do menino. A fivela da bolsa pegou próximo ao olho ferindo-o. Saíram vários adultos revoltados gritando que a menina não iria participar mais da "formatura". Porém a turma se dividiu em dois grupos, um achava corretíssimo a não participação da menina, outro era contra e dizia que a punição era muito severa, já que aquele momento nunca mais iria se repetir. Como a turma era maior e muito participativa, alguns alunos resolveram intervir e a menina acabou afastada até o dia da "formatura" , mas pode participar. Após a "formatura" não houve ninguém que tivesse achado a participação da menina na formatura essencial, mas se fosse outra turma talvez a menina não tivesse participado por causa da opinião dos adultos.

Iandara
Leciono há mais de 20 anos e deste, por volta de 14 anos na Educação Infantil.
já presenciei diversos conflitos e precisei intervir em inúmeros, justamente buscando a integridade das crianças. A escola que leciono no início dos anos 2000, era composta de uma clientela mais agressiva que na atualidade. Um dos conflitos que mais me marcou nesta época foi o de uma criança que pegou alguns filhotes de passarinho, numa árvore perto da escola, e os colocou na rua para que fossem atropelados. (detalhe as crianças amavam ver todos os dias os passarinhos n ninho e o cuidado dos pais). Quando notaram o que essa criança fez, vários meninos partiram para cima dele. Foi bem difícil controlar os alunos que iniciaram um violenta briga. Nesta situação não tinha como não intervir.
Uma questão mais recente, foi a de um aluno no ano de 2018 que quando contrariado por algum motivo, se tornava violento. Algumas vezes eu apenas observava e ele após jogar canetinhas ou lápis pelo chão, se sentava embaixo da mesa e após um tempo se acalmava.(onde eu conversava sobre seus atos e ele repetia que não faria novamente). Porém quando ele partia para cima de alguma criança, ou até mesmo da professora (eu) era necessário a intervenção.
Na minha dinâmica sempre propus que as crianças conversassem e tentassem chegar a um acordo e também obtive muito êxito em muitos conflitos.
Um que posso relatar foi o de um brinquedo que três crianças queriam no mesmo momento. Ao iniciar a discussão, um deles falou, "Então vamos dividir, cada um brinca um pouquinho," Enquanto um brincava os outros iam acompanhando o que estava com o brinquedo. (Era um carrinho de empurrar) Este foi um caso com sucesso onde eles mesmos chegaram a um acordo.

Surya
Em um dos meus períodos de observação (inclusive contribuiu para confecção de relatório), fiquei "encantada" ao experienciar uma cena: uma de minhas alunas que sempre se portou de forma calada, insegura e sem reações, ao brincar (Mamãe e filhinha) não autorizou que uma outra aluna (que não fazia parte de seu "grupo") participasse da brincadeira, desaprovação está manifestada por gestos e palavras. Quando uma terceira aluna percebeu o fato ocorrido, interveio dialogando com a primeira que a segunda aluna era legal e poderiam ser amigas... As meninas envolvidas no conflito entreolharam-se por alguns minutos e ambas começaram ali não somente o compartilhamento de experiências (brincadeiras) mas sim uma amizade. Fiquei feliz pelas três, sendo que a mediadora sempre exerceu esse "papel" e a segunda não se deixou impactar como inferior em sua existência e a primeira até certo ponto, exerceu sua presença/identidade no grupo.
Fato ocorrido em uma turma com crianças de 3/4 anos em 2019.

Ayra
Petrópolis, 17 de julho de 2021.
Bom dia, meninas do Colei.
Conflitos eram diários nas minhas aulas presenciais . Engraçado, que durante a pandemia, na modalidade remota é difícil identificar o conflito das crianças com seus pares. Vejo muito o conflito com os responsáveis. Sejam por as crianças não quererem levantar para assistir aula ou quererem fazer o dever sozinho e mãe não querer deixar.
Mas , presencialmente, na hora das brincadeiras livres é que eles mais aconteciam : parquinho e pátio. Conflitos por causa de lugar seja no trenzinho ou na rodinha também aconteciam com frequência.
Porém vou relatar um fato que aconteceu comigo e que eu vejo que me acrescentou muito na minha vivência de sala de aula a fim de adotar uma postura de valorização das crianças, mostrando a elas a sua importância , ajudando-as a se tornarem empáticas e a tornarem mais leve o convívio com seus pares.
Em 2018 minha sala ficava ao lado de outra turma do 5P. Eu costumava dar aula de porta aberta pois minha sala era muito abafada. Na verdade o conflito aconteceu na sala ao lado mas pude observar a postura da educadora para conduzir o conflito . Havia um menino chamado D. Tinha 5 anos . Era muito agressivo com os amigos. Mas fazia tudo escondido . Batia, beliscava, xingava baixinho. Um dia D. bateu na coleguinha mais quietinha da sala pois ela , sem querer , sentou no seu lugar na rodinha enquanto ele tinha ido ao banheiro. Ele deu um soco nela muito forte. A professora o chamou de sem educação , mal educado e o colocou no corredor sentado sozinho e trancou a porta da sala dela para que ele não entrasse . D. chutava a porta querendo entrar , batia na porta, gritava , atrapalhando muito minha aula. Acabei intervindo , conversando com a criança, acalmando-a e levando -a para a sala da direção . D. era uma criança que apanhava muito em casa e assistia seu pai agredir a mãe constantemente.
No ano seguinte D. veio estudar comigo . Já rotulado por toda a creche de violento e sem educação. Fiz um trabalho com ele de valorização dos seus saberes, seus desenhos, seus progressos, o elogiava para sua família, pedia para ser meu ajudante e pouquíssimas vezes o assisti bater nos colegas. Quando o fazia o repreendia , perguntava a ele se era certa esta conduta e o que ele faria se fizessem aquilo que ele fez com o coleguinha com ele.
Acredito que aquele ano foi de desenvolvimento para ele.
Por isso, a postura do professor é muito importante na condução da solução dos conflitos . Mas será que os professores e educadores têm noção da sua importância na construção da identidade cultural, seja auxiliando na resolução de conflitos ou na escuta dos motivos dos conflitos das crianças pequenas ? Muito a refletir.
Um abraço
Jaciana
Tive um aluno na creche com 3 anos que começou a brincar e morder o coleguinha que estava por perto.
Quando brincava com seus colegas sem ninguém está fazendo nada com ele mordia, sem que eu percebesse, e quando a criança vinha se queixar comigo e eu o chamava para conversar e ele dizia que não havia mordido. Comecei a observar e vi ele mordendo, conversei com ele e enviei um bilhete para sua mãe pedindo que conversasse com ele, pois estava mordendo o coleguinha na sala de aula. no outro dia ela veio conversar comigo e disse que conversou com ele e ele disse para mim que não ia fazer mais, ele pediu desculpas novamente para o coleguinha e ficou combinado que se ele mordesse em algum coleguinha mandaria bilhete novamente para sua mãe. Não sei o que a mãe realmente conversou com ele, mas resolveu e ele parou de morder.
Muitas vezes não sabemos que atitude tomar diante de certas situações de conflitos, então a melhor maneira é pedir ajuda a família, dependendo da situação.

Moema
Enquanto os alunos estavam em rodinha fazendo pintura livre e conversando distraidamente iniciou-se uma fala de um aluno ameaçando bater na colega se caso ela o atrapalha-se na sua produção, a menina ameaçada tentou se defender, porém antes que ela termina-se um 3° aluno interviu dizendo que homem não bate em mulher nem com uma flor e o conflito parou por ali.

Iacina
Petrópolis, 25 de julho de 2021.
Prezadas Maria José, Mariana e Heloísa,
Selecionar um conflito em uma turma de Educação Infantil, torna- se difícil, pois eles acontecem a todo momento, mas refletir sobre o questionamento citado por vocês é muito relevante, pois em diversas situações podemos intervir de forma errada, já que os conflitos servem para que as crianças aprendam a resolver seus problemas, a dialogar, a defender o que pensam e a construir sua autonomia gradativamente. Uma das situações, que sempre ocorrem conflitos é na hora da divisão dos brinquedos. Percebo que nessa fase, eles têm brinquedos de sua preferência e que gostam de esgotar suas possibilidades com estes. Com isso os conflitos acontecem, pois não querem dividir os mesmos com ninguém. Nessa situação a intervenção sadia pode ajudar, sempre através do diálogo, sem retirar o brinquedo da criança e dar para outra ( já vi isso acontecer e o conflito se agravou). Simplesmente colocando pequenas regras, como tempo para brincar, elogios ao dividir, brincar juntos, etc. podem resolver sem brigas. Uma outra situação comum é a vontade de ser o primeiro da fila. Nossa! Como isso acontece! Como resolver? A saída mais saudável: o ajudante do dia será o primeiro da fila. Ao colocar essa regra, o conflito acaba na hora. O conflito precisa acontecer, para que se saiba sair dele. Gera crescimento, mas a forma saudável de ensinar sobre ele é que deve ser o nosso objeto de reflexão.

Yara
Em uma turma de educação infantil não há um dia sequer que os conflitos não se façam presentes. Afinal é lá que em muitas vezes as primeiras relações sociais infantis acontecem. Onde há relação social, há conflito.
Me recordo bem de um episódio que vivenciei a tempos, onde duas meninas disputavam a posse de uma boneca. Conflito esse que é bem presente no cotidiano infantil. Observando de longe o diálogo, deixei fluir com a intenção de intermediar se necessário. Percebi que uma mais apta ao diálogo tentava convencer a outra com argumentos e propondo trocas que não agradavam. Os ânimos se exaltaram. Até que um amigo ofereceu uma boneca semelhante e mostrou a amiga (que tentava a posse ) uma brincadeira de levar a boneca sob o Carrinho. Na verdade as duas não resolveram a questão primeira que surgira, houve um terceiro que apresentou uma solução que agradou aquela q tentava ter a boneca. E todos seguiram brincando.
Nesse contexto surgiram diálogos posteriores sobre respeito, resolução de conflitos... Enfim. Não tive de intervir, mas desenvolvemos assuntos relacionados em outros momentos. Educação Infantil é assim, um dia após o outro. Com planejamentos que mudam conforme os interesses e as situações acontecem. E há situações diárias que enriquecem e fazem tudo ficar mais mágico e prazeroso.

Iandra
Na minha turma do 2 ano, desenvolvemos, as sextas das experiências do nosso cotidiano, momento em que os alunos podiam levar brinquedos/materiais característicos de profissões para experienciarem.
Um dos combinados é que eles organizariam os espaços e a dinâmica de trocas dos espaços de cada profissão, sem a minha intervenção, o que gerou muitos conflitos, mas eles teriam que resolver, mantendo o tom de voz baixo, o que nem sempre foi possível, rsrs!
Após muitos conflitos, discussões, conseguiram se organizar, a partir da terceira sexta -feira, esse momento foi muito valioso, enriquecedor!

Inaiê
Pegar o material do coleguinha e levar para casa. A intervenção do adulto mais atrapalhou do que ajudou.

Thaynara
Esse assunto estamos se deparando com muita frequência do meu dia a dia profissional. Tendo momentos de necessidades de intervenção do professor quando realmente e necessária. Exemplo um colega machucou o outro com o pé no parquinho na hora do escorrego, a criança vem fazer queixa do outro, sempre devemos olhar e da atenção a criança que esta fazendo a reclamação, caso observamos que foi apenas algo que não machucou, "falamos que o colega fez sem querer e claro ficamos observando a outra criança, caso seja necessário chamamos e conversamos que aquilo e errado. Uma outra situação e quando a criança fala que o outro não é mas amigo dele, devemos como professor intervir dizendo que aqui não tem nada disso todos somos amigos uns dos outros. Um outro momento em que as crianças estão brincando livremente com os brinquedos, um colega que o mesmo brinquedo, nós como professor observa a situação e eles mesmos conseguem chegar a uma solução dizendo " você brinca um pouquinho depois sou eu...", ou vise e verso. Pois vivo isso em meu dia a dia na educação infantil

Raíra
As crianças precisam de autonomia para solução dos problemas. Nossa intervenção só é necessária quando há momentos de agressão ou briga.

Tainara
Certa vez tive a oportunidade de conviver com uma aluna que, mesmo sendo ainda pequena, com 5 anos de idade, tinha um nível de autonomia bastante significativo quando se tratava de solução de conflito. Segundo relato da mãe Manu (não é o nome real da crianças, mas vou chama-la assim aqui neste relato) convivia num ambiente familiar de bastante diálogo e sempre propenso à reflexão sobre as atitudes. Desta forma, Manu tinha uma habilidade de ação e julgamento diferente dos colegas.
Numa ocasião, uma colega da turma tomou uma boneca com a qual Manu tinha uma preferência bem significativa para brincar, na verdade, ela poucas vezes lançava mão de outro brinquedo nos momentos de brincadeira livre. Nesta ocasião, a amiga puxou o brinquedo e disse que Manu devia escolher outro para brincar, pois ela queria aquela boneca. Imediatamente pensei em intervir, visto que o brinquedo fora puxado das mãos da menina, mas aguardei observando apenas. Inicialmente, Manu deu um passo à frente e isso me fez acreditar que ela iria puxar a boneca de volta ou bater na amiga. Todavia, Manu chegou bem perto dela e lhe disse:
-" Está bem, eu te empresto minha boneca, mas só por minutos e depois você me devolve, tá?"
A amiga concordou e eu segui observado. Manu não pegou nenhum outro brinquedo para brincar; cruzou os braços e ficou olhando para a amiga. Pouco tempo depois, caminhou até ela e lhe disse:
- "Seu tempo já acabou; agora é minha vez de brincar com minha boneca."
Por incrível que pareça, a boneca foi devolvida imediatamente com um sorriso e um "obrigada". Acredito que se eu tivesse feito alguma intervenção, o fechamento do episódio poderia ter se tornado conflituoso.
Além de resolver seus próprios conflitos, Manu com toda a sabedoria do alto dos seus 5 anos de idade, também ajudava os colegas a resolverem seus próprios conflitos. Um dos meninos da turma tinha o hábito de puxar os cabelos das meninas e eu ainda não havia conseguido fazê-los parar; enquanto brincavam no pátio externo, ele queria o velotrol que estava sendo usado pela amiga da Manu, mas não pediu o brinquedo antes de puxar o cabelo da menina para retira-la do brinquedo. A educadora que acompanhava as crianças no momento da brincadeira, imediatamente foi até eles e repreendeu o aluno, explicando que aquilo não era certo e que a amiga continuaria brincando mais um pouco e depois seria vez, desde que e desculpasse com ela. Minutos depois da reconciliação, o menino repetiu a ação violenta com a amiga e a mesma profissional orientou que ela também puxasse os cabelos dele, pois "suas desculpas não teriam sido de coração". Manu se colocou ao lado da colega e lhe disse:
-"Não faça isso amiga, porque assim você estará sendo 'feia' como ele e Deus não gosta disso."
Percebendo que sua intervenção fora mais infantil do que o posicionamento da Manu, a Educadora se desculpou com a menina e lhe disse para emprestar um pouco o brinquedo ao amigo diante de suas desculpas novamente.
Realmente precisamos dar mais voz às nossas crianças!

Moara
Prezadas Maria José, Mariana e Heloisa,
Infelizmente acho que na maioria das vezes a intervenção do adulto é necessária, a não ser que as crianças estejam se agredindo. Intervimos no intuito de resolver logo o problema e não deixamos que eles busquei soluções, achando que não são capazes.
Atenciosamente.



Kaolin
A situação de conflito que presenciei e que mais me marcou foi em uma creche na qual trabalhei quando ainda estava estagiando. Numa turma de maternal, durante a ida ao parquinho, duas crianças disputavam o mesmo brinquedo. A educadora que os acompanhava, ao perceber que uma das crianças fora agredida pelo coleguinha, ao invés de conversar com ambas as partes, orientou e praticamente obrigou a criança agredida a revidar a agressão, beliscando a outra. Esta foi realmente uma situação de conflito que se agravou por conta de uma intervenção equivocada de um adulto.

Alira
Lembro me quando estava como docente de uma turma de alunos com 4 anos de idade. Os mesmos estavam brincando de massinha e o conflito iniciou devido a cor da massinha de cada um. Naquele momento, primeiramente ouvi os diálogos acerca da preferência de cada um e o diálogo perdurou durou um tempo, fiquei por perto mas não fiz intervenções visto que o meu direcionamento naquele momento não resolverei ou traria movimentos críticos.

Jurema
Me lembrei de uma situação em que no primeiro dia de aula, várias mães vieram pedir para que o filho não sentasse próximo a uma aluna, que era agressiva, pois no ano anterior havia tido muitos problemas de comportamento. Apesar de saber de algumas situações, pensei que era um novo ano e que poderia ser diferente. Realmente aconteceram várias situações e era difícil controlar sua agressividade. Com o passar do tempo, percebi que teria que pensar em alguma estratégia, pois as crianças e eu também já estávamos esgotados com as situações. Comecei a dar muito mais atenção ao que ela fazia, muitos elogios, agradecendo sempre por tudo que fazia e percebi que a turma que a ignorava(e compreendia as razões: por medo e também pelas orientações dos familiares), começou a se aproximar mais da aluna. Até que um dia, uma criança disse: TIA, você é amiga dela???? Aquela pergunta bateu em cheio e claro respondi que SIM. Eles me olharam e questionei: Por quê, vocês não são? e alguns falaram que não e o motivo e outros disseram que agora seriam sim, já que ela estava boazinha. Enfim, naquele momento, percebi que o "pavor", a indiferença, os sentimentos negativos, tudo caiu por terra e uma nova relação começou a ser construída naquela turma tudo partiu deles. O questionamento, por conta da observação de uma criança, fez tudo mudar.
Que possamos estar sempre atentos ao que as crianças nos falam.
Abraços. Bete

Potira
Prezadas colegas do COLEI,
A Educação Infantil está permeada de conflitos, muitos deles nós precisamos intervir já que atenta contra a integridade física e/ou emocional das crianças pequenas, como os beliscões, as mordidas, chutes e socos que eventualmente aparecem para demonstrar “força e poder”. Existem momentos que já me questionei como aquelas criaturas tão pequenas pudessem ter tanta força contra um colega que possui a mesma ou até idade inferior. Mas esses conflitos, posso dizer, não são os mais comuns onde trabalhei. Eles existem, mas acabamos promovendo com as crianças mais novas muitos momentos de rodinha onde debatemos entre elas e também com nosso “poder de convencimento de professora” falamos sobre as regras e comportamentos esperados e os não tolerados na sala de aula. Mesmo aquelas miúdas, entendem e acabamos por inibir muitos conflitos por ter interagido e previsto futuros problemas entre as crianças. Acho sinceramente que meu papel como educadora é esse. Afinal, se eles podem entrar em conflito por bobagens porque eu estaria ali então? Não é mesmo?!
Mas eu gostaria de lembrar de situações que sempre acontecem e essas eu sinceramente deixo fluírem até o ponto que não posso mais me ausentar de intervir. São os momentos de brincadeiras ao ar livre e/ou parquinho. Se existe um brinquedo que é motivo de confusão para a criançada esse é o escorrega. Principalmente os que atendem as crianças de 3 anos, mais ou menos. Porque eles já possuem certa autonomia de irem sozinhos, mas não gostam nem um pouco de respeitar a fila. Risos. Fico observando sempre o aluno mais forte (ou mais descolado, ou mais alto, ou o que tem brinquedos melhores.... enfim) cortando a fila, empurrando ou tentando convencer os demais. Observo atenta as conversas que saem, os diálogos de convencimento, as crianças “nervosas”, batendo o pé e tudo. Frequentemente devido a pouca idade as falas ficam bagunçadas, saem palavras estranhas e misturadas e muitas vezes é tudo bem engraçado. A professora precisa se divertir com as “fofurices” também, não é?! Como disse, essas são situações que procuro não interferir, pois ou eles se resolvem, ou aqueles que se sentem prejudicados buscam a mim ou a outro brinquedo tão divertido quanto. Quando a situação foge de controle, basta perguntar de longe: “Está tudo bem por aí?!”, “Está acontecendo alguma coisa?!” que é como apagar um possível incêndio. Geralmente nas brincadeiras livres eu mantenho certa distância, prefiro observar, perceber quem possui um repertório para se apresentar aos outros, quem convence, quem é convencido. Afinal, as brincadeiras livres nos trazem muitas informações sobre as dificuldades e particularidades das crianças, por isso, permito que elas sejam as mais livres possíveis, para que eu possa ver quem elas realmente são. E quão bonitas elas são!
Abraços,

Iracema
Prezadas Heloisa, Maria José e Mariana
Já presenciei diversas situações de conflito em que a intervenção do adulto/educador foi desnecessária, pois as crianças foram capazes de resolver seus conflitos por si só, apenas acompanhei observando o desenrolar caso fosse necessário intervir.
Uma que posso citar ocorreu enquanto brincavam no pátio um grupo de alunos com idades de 4/5 anos, este grupo com quase 24 crianças e apenas duas gangorras de cavalo, uma mesa de totó e alguns outros brinquedos menores. Todos queriam brincar ao mesmo tempo nas gangorras que a principio só tem lugar para dois. Mais as crianças perceberam que o meio da gangorra havia uma espaço e que ali poderia ir mais crianças, começaram a brincar de que as gangorras eram ônibus e que subiam e desciam os passageiros se apertando para que ao em vez de 2 apenas pudessem brincar mais crianças e o ponto do ônibus era uma fila que eles mesmos organizaram com os que saiam do brinquedo ia para o fim da fila e se divertiam entrando e saindo da gangorra . O mesmo foi com a mesa de totó que se organizaram de maneira que cada um fica-se com uma manete e criaram suas regras para trocar os times, esses time que aguardava brincava na gangorra "ônibus".
É muito bom observar a criatividade e maneira como as crianças resolve seu conflitos.

Jaci
Boa tarde!
Hoje escrevo para contar uma experiência pessoal sobre conflitos na escola.
Lembro-me de que sempre fui uma aluna bem tranquila, porém em algumas ocasiões, como qualquer ser humano, tinha meus conflitos com algum colega.
Certa vez, eu e algumas amigas resolvemos ligar para escola e fingir sermos a mãe de uma aluna que vivia implicando conosco com o aval de uma professora que era sua vizinha e a tratava de forma diferenciada dos demais alunos, talvez por sua condição financeira, talvez pela proximidade das duas.
Na ligação pedíamos que ela fosse dispensada mais cedo naquele dia pois havíamos 'matado a aula' dessa professora e queríamos 'brigar' com ela fora dos portões da escola para que não houvesse punição.
Para nossa sorte, a orientadora da escola, que foi quem atendeu ao telefone, foi uma profissional excelente e percebeu não só a mentira como também que havia algo a mais nessa história.
Reconhecendo depois de algumas perguntas, uma das alunas que fez a ligação, nos chamou para conversar no dia seguinte, não para simplesmente nos punir pelo que havíamos feito, mas sim para entender o que estava acontecendo que teria nos levado a realizar tal ato.
Após conversarmos com ela e expormos toda situação que vinha ocorrendo em sala, as coisas mudaram bastante pois ela conversou com a professora e com toda a turma deixando claro alguns pontos sobre respeito ao próximo, às diferenças, importância do diálogo e da democracia que até então se faziam obscuros para todos nós.

Indira
Boa tarde, certo dia pela manhã, estávamos na sala de aula como era habitual naquele horário. Havíamos subido a pouco do desjejum e ainda estávamos nos organizando, mochila, agenda sobre a mesa, material de uso pessoal recolhido, muda de roupa para o banho pré almoço e material para desenvolver a primeira atividade do dia. Enquanto nos organizávamos as crianças (1 ano e meio) brincavam com os brinquedos da sala. Eis que se inicia uma disputa árdua e fervorosa pela "boneca desprovida de beleza" para não ofender e chamá-la de feia, a auxiliar da turma e eu a apelidamos carinhosamente. Notamos certo desespero por parte de duas alunas (A e B) pela tal boneca. Ficamos observando o tempo todo, de longe para não prejudicar a negociação com a nossa intervenção. Sabíamos que poderia sair diálogos memoráveis entre as duas, já que nenhuma ainda falava (contém ironia).E foi o que aconteceu, depois de alguns puxões, empurrões e gritos a negociação aconteceu , nenhuma saiu ferida, tão pouco mordida ( que era o nosso grande medo) e a aluna A ficou com a boneca. Continuamos a observação e uns 2 minutos após, a aluna A entregou a boneca a aluna B sem nenhum rancor e sem ter precisado a aluna B cobrá-la. E depois de uns minutos iniciei a atividade. Foi uma experiência ótima, super enriquecedora pra mim, uma professora e amante da infância. Duas crianças de 1 ano e meio , que ainda não tinham o domínio da fala e resolveram seu conflito com autonomia.



Indira
As crianças estavam juntas no pátio e foi dada a elas brinquedos de encaixe,
em um determinado momento uma das crianças montou o seu brinquedo mas queria mais peças e foi pegar as peças do colega, o colega não deixou que ele pegasse e o aluno foi passando entre as outras crianças e tentando pegar as peças dos colegas surpreendentemente ,ele não consegui. ficou muito chateado mas entendeu que não poderia pegar as peças dos colegas.
A situação foi resolvida entre eles naquele momento, mas depois a professora conversou com a criança e incentivou a ele, que quando quisesse algo do colega teria que pedir ,e ele pediu a um dos colegas que prontamente lhe emprestou a peça que ele tanto queria.



Eno
Os conflitos na educação infantil são uma realidade, como trabalho numa EMI as criança ficam na escola durante 4 horas, mas eles acontecem com certeza. Certa vez no recreio, com duas turmas compartilhando o momento, ocorreu uma disputa por um brinquedo entre três crianças, sendo que uma delas acabou caindo. A professora interviu com energia, mas a criança que caiu logo levantou e disse para não¨ brigar¨. Que ele era amigo dele e iria emprestar o brinquedo, que estava tudo bem. abraço o colega e foram brincar tranquilamente.
Em outra situação numa brincadeira, uma menina a todo tempo tirava outra menina da brincadeira, não deixando que a primeira brinca-se com os demais colegas. A professora mediou a situação chamando a criança e antes de ¨brigar¨, perguntou o que estava acontecendo e a principio a criança afirma que nada. Mas durante a mediação acaba informando que na realidade ela só queria continuar brincando de boneca com a colega. Assim a professora mostrou que a temos o direito de brincar com qualquer pessoa e durante o tempo que quiser.

Mahara
Um conflito que me lembro que marcou bastante a minha prática, foi quando trabalhei em um CEI com uma educadora que tinha hábitos mais antigos e não pedagógicos, então as crianças entraram em conflito entre elas, uma delas bateu na outra e, infelizmente, a educadora orientou que aquela que apanhou, revidasse batendo de volta. Isso ocorreu em uma tarde, quando eu não estava presente, pois não era o meu horário, e as crianças vieram me contar no outro dia, até constrangidas, pois sabiam que esse não era o certo. Então tive que contornar a situação com as crianças, não rebaixando a educadora perante as crianças, e depois conversei com ela para seguirmos a mesma linha. Mas ficou uma situação bem complicada em que a intervenção do adulto, no caso ela, atrapalhou a rotina daquelas crianças e ainda fiquei em uma situação bem complicada. Pois acredito que se tratando da criança que apanhou, e conhecendo ela, ela não revidaria, tanto que ela parou e foi procurar a orientação de um adulto.

Fayola
Centenário de Paulo Freire

Ao falar sobre conflito trago, a memória, uma experiência muito significativa em minha jornada. Em 1999, recebemos uma criança em nossa Escola que apresentava um quadro de paralisia cerebral, o que afetou o lado esquerdo de seu corpo. A Bia demonstrava lentidão ao se locomover e sua musculatura fina estava comprometida. Ela ainda apresentava uma dificuldade em salivar, o que provocava o ato de babar.
A Bia buscava sempre a interação com seus pares, no entanto eu percebia algumas atitudes de rejeição por partes das outras crianças, o que me fazia ficar atenta principalmente nas atividades livres no pátio. Foi em uma dessas brincadeiras que tive a oportunidade de perceber que por meio das interações as crianças se re-significam em suas formas de se relacionar, sendo capazes de muitas articulações.
Havia um grupo de meninas brincando de pique pega. A Bia, prontamente, quis participar da brincadeira, no entanto duas meninas não permitiram, enquanto outras questionavam o por quê da não permissão. Eis que uma delas logo apresenta a justificativa: Bia não, ela baba e molha a gente!! Fiquei chocada com uma fala sincera, mas no meu olhar tão perversa. Imediatamente me dirigi a grupo em defesa da Bia, já com as palavras prontas, para que ela fosse aceita no grupo. No entanto para a minha surpresa esse conflito foi resolvido antes da minha chegada. A Bia prontamente replicou ao ouvir o argumento da colega: É verdade eu babo, mas eu tenho a toalhinha aqui, então é só secar. As outras meninas concordaram com ela e a Bia entrou na brincadeira.
Que grande aprendizagem. Bia, aos 5 anos de idade, demonstrou uma grande capacidade
de argumentar e lutar por seus direitos. Ela não precisou da minha interferência, que provavelmente seria carregada de uma "defesa autoritária" diante do "direito" do brincar da Bia.
Espalho essa história com o desejo de provocar reflexões sobre a nossa relação adultocêntrica, que muitas vezes dificulta a construção das interações entre as crianças, interditando as suas falas e a expressão de suas ideias.

Um forte abraço com muito afeto!!!
Nina